ATA DA OCTOGÉSIMA QUARTA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 23.08.1990.
Aos vinte e três dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Octogésima Quarta Sessão Ordinária da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos tendo sido constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Octogésima Terceira Sessão Ordinária, que deixou de ser votada face à inexistência de “quorum” deliberativo. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Cyro Martini, 03 Pedidos de Providências; pelo Ver. Décio Schauren, 04 Indicações; pelo Ver. Dilamar Machado, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Elói Guimarães, 01 Indicação e 03 Pedidos de Informações; pelo Ver. José Alvarenga, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Nelson Castan, 01 Projeto de Resolução nº 35/90 (Proc. nº 1675/90); pelo Ver. Valdir Fraga, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 111/90 (Proc. nº 1656/90); pelo Ver. Vicente Dutra, 10 Pedidos de Providências. Do EXPEDIENTE constaram Ofício nº 001/90, da Comissão Externa para avaliar alienação realizada pela Cia. Carris Portoalegrense de terrenos no Bairro Azenha, e Cartão de Dom Osvino José Both, Bispo Auxiliar de Porto Alegre. Após, tendo sido constatada a existência de “quorum”, foi aprovado Requerimento do Ver. Vicente Dutra, solicitando Licença para Tratamento de Saúde para o período de vinte e três a vinte e sete do corrente ano. Em continuidade, o Senhor Presidente declarou empossada na vereança a Suplente Bernadete Vidal e, informando que S. Exa. já prestara compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensada de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Justiça e Redação. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Wilson Santos saudou a presença da Verª Bernadete Vidal e, após, teceu comentários acerca do livro de Frederico Bastian sobre leis, destacando a dificuldade dos Porto-alegrenses em atingir o Fórum, localizado na Rua Celeste Gobato, salientando a ilegalidade do estacionamento, bem como da área fechada pelo CTG Estância da Azenha, naquele lugar. Em nome da lei e da segurança popular, propugnou ao Sr. Prefeito Municipal o restabelecimento da lei para quase quatro mil pessoas que por lá transitam diariamente. O Ver. João Dib reportou-se ao pronunciamento do Ver. Wilson Santos acerca do estacionamento na Rua Celeste Gobato, asseverando que aquela problemática, envolvendo o Fórum, urge ser solucionada. Analisando projeto em tramitação nesta Casa, o qual visa a adoção do “sábado inglês” para o comércio, afirmou que essa matéria deve ter origem na iniciativa das pessoas diretamente envolvidas no ramo e invocou o Decreto nº 99.467, do Governo Federal, que regula a matéria. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER o Ver. Clóvis Brum, referindo-se ao Decreto relativo ao livre comércio aos domingos, publicado pelo Governo Federal, criticou essa medida salientando que a referida é matéria da alçada dos Poderes Municipais. Ressaltou, com relação a adoção do “sábado inglês”, que defende a livre negociação entre comerciantes e comerciários, mas não no que se refere ao trabalho aos domingos. O Ver. Ervino Besson, referiu-se a parcela da população de Porto Alegre, usuários do transporte coletivo, servidos pela Viação Belém Novo. Informou ainda, que tem sido procurado sistematicamente pelos mesmos, para que, através desta Casa, se viabilize uma solução junto ao Sr. Prefeito Municipal para tal problema. O Ver. Adroaldo Correa, reportando-se ao pronunciamento do Ver. Ervino Besson, afirmou que o problema por ele denunciado é antigo, especialmente por se tratar de uma área distante da cidade e dos locais de trabalho daquela população. Propôs a reunião de esforços da comunidade, Poderes Legislativo e Executivo no sentido de se buscar solução para tal. E, comentando a proposta de livre comércio, asseverou que é matéria de intervenção municipal e deve envolver negociação entre os trabalhadores e patrões desse setor. A Verª Bernadete Vidal, discorrendo sobre a Semana do Excepcional, defendeu e solicitou “menos indiferença por parte do Poder Público com relação aos deficientes”. E, comentando as discriminações sofridas por essa parcela da população, defendeu Emenda do Ver. Martim Aranha relativa a destinação de área para construção de Centro de Apoio aos Deficientes. Às dezessete horas e sete minutos, tendo sido constatada a inexistência de “quorum”, o Senhor Presidente levantou os trabalhos da presente Sessão, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a realizar-se hoje, às dezessete horas e convocando-os para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga, Clóvis Brum e Adroaldo Correa e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Adroaldo Correa. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR.
PRESIDENTE (Valdir Fraga): Havendo “quorum”, estão abertos os
trabalhos da presente Sessão.
Passaremos às
COMUNICAÇÕES
Ver. Nelson
Castan. Ausente. Ver. Luiz Machado. Ausente. João Motta. Ausente. Ver.
Aranha Filho. Ausente.
Ver. Wilson
Santos. V. Exª está com a palavra.
O SR.
WILSON SANTOS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, faço, primeiramente, uma
saudação à Verª Bernadete Vidal que está novamente entre nós. Com as ausências
dos Srs. Vereadores anteriores a mim, não tive tempo de apanhar o livro de
Frederico Bastian, que escreve sobre leis, e mostraria como seria duradouro e
respeitado um governo que tivesse um estreito compromisso com o cumprimento da
lei, embora ele coloque muitos fatos de leis injustas. Chamo a atenção, inclusive,
daquelas leis que são consenso geral, que são justas e o seu não cumprimento
gera injustiça. Até agora, não vi solucionada uma tremenda injustiça por
descumprimento da lei, uma injustiça que recai sobre os usuários do Fórum de
Porto Alegre. São quatro mil pessoas que diariamente se dirigem ao Fórum de
Porto Alegre, que está na Rua Celeste Gobato, atrás do IPE, numa rua sem saída.
Mas o Poder Público foi inteligente ao prever uma rua. Existe uma rua prevista
no sistema viário, pelo Planejamento, pela SMOV, que atravessa a Aureliano
Figueiredo Pinto até a Ipiranga, passando pelo lado do Fórum. Pois é justamente
ali que o CTG Estância invadiu e cercou a área.
Então, nós estamos vivendo um tremendo
absurdo. Eu já denunciei aqui que além de o Prefeito não ter resolvido essa
situação, a EPATUR se valeu desse contexto para faturar para os cofres públicos
num estacionamento que vou provar que é ilegal. Fiz um alerta ao Sr. Prefeito,
nós temos aqui a atenção da Bancada do PT, que tenho absoluta certeza que concorda
com este Vereador, tanto que o Ver. João Motta foi ao Canal 4, Rede Manchete,
comigo, e reconheceu a anomalia existente.
Então, eu vou, mais uma vez, em nome da
justiça, encarecer ao Sr. Prefeito que reestabeleça a Lei, a justiça para
quatro mil pessoas que vão diariamente ao Fórum e que o acesso da Aureliano de
Figueiredo Pinto até o Fórum foi fechado por um CTG que invadiu uma área
pública e colocou uma cerca. Não foi corrigida, conforme promessa da Bancada do
PT e do Prefeito, essa situação, e permanece a EPATUR com uma casinha, uma
agência cobradora de estacionamento, ilegal, em cima da rua projetada,
faturando 100 cruzeiros por hora, 200 cruzeiros o turno e 400 cruzeiros os dois
turnos.
Não é meu sistema fazer ameaças, já fiz uma
denúncia, que está nesta Casa para ser aceita pelos Vereadores, baseada no
Decreto-Lei nº 201, que prevê a perda do mandato do Prefeito por infração
político-administrativa, ou seja, por esse desleixo, por este descaso que ele
faz com o Vereador, com as leis, com a justiça e com a comunidade. E
referentemente ao estacionamento ilegal vou ser obrigado a entrar com um
Mandado de Segurança porque o direito, a justiça e a lei estão sendo feridos, e
aqui com a complacência e com a co-autoria da Prefeitura. Já falei com o Diretor-Presidente
da EPATUR, já externei pessoalmente que aquilo é uma cobrança ilegal, como é
que a EPATUR botou patrola para improvisar o estacionamento para cobrar e não
botou a patrola para reabrir o acesso. O que nós queremos é o acesso para
quatro mil pessoas para o Fórum. Isso a Prefeitura não fez. Pegou a patrola
para improvisar o estacionamento para cobrar do povo um estacionamento.
Chamo a atenção mais uma vez desta Casa: eu
não venho aqui vociferar levianamente contra o Prefeito. Eu critiquei na Sessão
Solene que homenageou Valdeci que os líderes não vêm à tribuna protestar e
buscar solução. Eu não vou fazer como prática mobilizar os usuários do Fórum
para ir com alicate, com enxada, derrubar a cerca. E poderia fazê-lo, porque
sei que estaria fazendo baseado na lei. Quero a força do exercício parlamentar,
do uso da tribuna, do uso do parlamento, do uso das leis, por isso denunciei o
Prefeito baseado no Decreto-Lei nº 201. É isso que o parlamentar tem que fazer
e não tumultuar e gerar confusão. Eu afronto o Prefeito, mas afronto com a
postura vertical de um parlamentar que sabe utilizar a lei e pressionar, porque
estou utilizando a lei para pressionar o Prefeito para defender os
representados. Nós temos como representados a comunidade e o povo de Porto Alegre
e aqui é o foro adequado de nós protestarmos, de acionarmos o Prefeito mesmo
com medidas extremas para que ele cumpra a lei, cumpra a justiça e para que
haja como poder em benefício do povo.
O Sr.
Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Vereador, depois de um pronunciamento de V. Exª a respeito deste
galpão do CTG me preocupei com o assunto e entrei em contato com o patrão deste
CTG que é pessoa de minhas relações pessoais; ele me disse que a cerca já
estava sendo retirada. Confesso que não estive no local, mas ele me disse que
atendendo a essa solicitação de V. Exª e a determinação da Prefeitura, a cerca
já estava sendo retirada. Isso no que diz respeito ao CTG. Acho, inclusive, que
V. Exª tem razão, não há motivo para que se torne privado aquele local, que é
público.
O SR.
WILSON SANTOS: É que justamente ali, Vereador, já era o acesso improvisado
para o Fórum, independentemente de ter sido improvisado, ele é oficial porque o
Poder Público planejou o acesso exatamente por ali. Devolvo-lhe o aparte.
O Sr.
Vieira da Cunha: Quanto à segunda parte do seu
pronunciamento, quero me solidarizar com V. Exª, acho um absurdo que esteja
sendo utilizado aquele espaço público como fonte indevida de recursos à
municipalidade. Ali se localiza o novo Fórum da Cidade, todos sabemos que as
autoridades públicas devem fazer o máximo esforço para garantir o acesso da
população à Justiça e, ali, a Prefeitura está, indiretamente, dificultando o
acesso da população ao Poder Judiciário e o trabalho, principalmente, dos
advogados. Não sei se V. Exª sabe, mas naquele prédio do Fórum há
estacionamento previsto apenas para juízes e promotores. Os senhores advogados
têm que se submeter ao pagamento de determinada importância à Prefeitura, a fim
de que consigam estacionar.
O SR.
WILSON SANTOS: Não é previsto nem para o Ministério
Público e alguns promotores protestaram junto a este Vereador porque o
estacionamento é previsto para juízes e alguns funcionários, mas ainda não está
em execução.
O Sr.
Vieira da Cunha: A informação que tenho pode ser
equivocada, mas dá conta de que o estacionamento é para promotores e juízes.
Todavia, se nem o promotor tem esse privilégio para estacionar seu veículo
dentro do fórum, a situação é ainda mais grave. Portanto, finalizando esse
aparte, quero-me solidarizar com V. Exª e dizer que, inclusive, V. Exª pode
contar com a solidariedade e o apoio da Bancada do PDT a essa sua iniciativa no
sentido de tornar público aquele estacionamento. Sou grato a V. Exª.
O SR.
WILSON SANTOS: Para concluir, quero dizer que o que me
causou um verdadeiro espanto é o fato de que há um ano estou solicitando que se
reestabeleça o acesso para o Fórum e o Poder Executivo foi omisso. Todavia,
quando vislumbrou a possibilidade de arrecadar para os cofres, de maneira
ilegal, foi ali, passou uma patrola, improvisou o estacionamento, a EPATUR me
deu recibo porque eu fui lá como usuário do Fórum e fui obrigado a pagar 100
cruzeiros para entrar com o carro, e dizia ali: área azul. Vejam o absurdo, usa
o motivo de área azul que é Lei diferente e inclusive a cobrança estipulada
muito menor para poder arrecadar.
Então, finalizo: causa-me espanto que a
Prefeitura, ao invés de resolver o problema, crie um problema maior em cima da
ilegalidade. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Clóvis Brum): Próximo orador inscrito é o Ver. Vicente
Dutra, que cede ao Ver. João Dib.
Ver. João Dib, V. Exª está com a palavra.
O SR.
JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, é muito importante levantar os
problemas, buscar as soluções, e o Ver. Wilson Santos deve estar contente
porque parece que algumas das reclamações feitas aqui neste Plenário estão
encontrando respostas, estão encontrando soluções. Esperamos que assim que
comecem as obras da ADVB, como foi prometido, se abra a área para que nós
tenhamos acesso, porque, realmente, é difícil chegar ao prédio do Tribunal.
Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu
já havia feito apelo a alguns dos Vereadores da Casa, em particular, para que a
Casa desistisse do Projeto de Lei que aí tramita, analisado por uma Comissão
que tenho a honra de presidir, que é o famoso sábado-inglês. Eu já havia pedido
que esquecêssemos esta matéria. Esta matéria tem triste memória para a Casa.
Tem histórias e mais histórias contadas nesta Cidade em razão do Projeto que em
1986 pretendeu instituir aqui o sábado-inglês. A experiência no interior do
Estado mostra que não dá certo. E eu fiz um apelo a alguns colegas nossos para
que esquecêssemos esta matéria, deixássemos que ela fosse tratada entre
empregados e empregadores, já que existe neste País lei suficiente na
Consolidação das Leis do Trabalho para que o denominador comum seja encontrado.
E, no dia 20 deste mês, pelo Decreto nº 99.467, o Presidente da República
faculta ao comércio varejista em geral o funcionamento aos domingos. O texto
integral do Decreto é o seguinte: (Lê.)
“Decreto nº 99.467, de 20 de agosto de
1990.
Faculta ao Comércio Varejista em geral o
funcionamento aos domingos.
O Presidente da República, no uso da
atribuição que lhe confere o artigo 84, inciso IV, da Constituição e nos termos
do art. 10, parágrafo único, da Lei nº 605, de 05 de janeiro de 1949,
Decreta:
Art. 1º Fica facultado o funcionamento aos
domingos do comércio varejista em geral, desde que estabelecido em Acordo ou
Convenção Coletiva de Trabalho, respeitadas as normas de proteção ao trabalho e
o art. 30, inciso I, da Constituição Federal.
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data
de sua publicação.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 20 de agosto de 1990; 169º da
Independência e 102º da República. Fernando Collor
Antonio Magri”.
Claro que não fere a autonomia municipal,
porque a última palavra será dada pelas prefeituras e pelas câmaras. Mas eu
apelaria aos Vereadores desta Casa que deixassem, se for para fazer uma lei que
viesse do Executivo, que depois de ouvir empregados e empregadores talvez
pudesse fazer uma lei com a isenção que quando partida desta Casa, por mais
isenta que seja a intenção de cada um de nós, ela não será recebida pelo
público como isenta de segundas intenções, porque é desagradável,
profundamente desagradável ouvir insinuações. Então estou fazendo da tribuna o
apelo que já fiz a alguns dos Vereadores desta Casa; vamos deixar na forma que
agora o Presidente da República indica, que se estabeleça acordo em convenção
ou convenção coletiva de trabalho onde a legislação brasileira é profícua, tem
todas as alternativas possíveis e os trabalhadores não vão sair perdendo, mesmo
porque trabalhando aos domingos vamos ter sem dúvida nenhuma aumento de vagas
no comércio, vamos ter mais oportunidade de trabalho que está faltando neste
País.
O sábado-inglês, que na Inglaterra se faz
trabalhando até às 18 horas e também trabalhando aos domingos, porque é razão
de movimentação turística, só tem aqui, para nós, menos aquinhoados na nossa
receita média anual. Nós, brasileiros, recebemos muitos poucos dólares, a nossa
renda per capita é muito baixa, e na Inglaterra, onde a renda per
capita é muito maior do que a nossa - e nós teimamos em fazer sábado-inglês
-, lá se trabalha no sábado à tarde e no domingo. Eu tive oportunidade de
pesquisar o assunto porque tenho um filho que mora em Londres, e ele me mandou
inclusive fotos com o horário estampado nas vitrines, mostrando que se trabalha
nos sábados à tarde e nos domingos. Mas, especialmente, mostrando as fotos
tiradas por ele mesmo da movimentação dos sábados à tarde das ruas comerciais
de Londres. É impressionante o movimento.
Então, acho que este apelo está sendo feito
em muito boa hora, porque coincide com o Decreto do Presidente da República,
que libera plenamente, evidentemente, respeitando a autonomia municipal.
O Sr.
Wilson Santos: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu
parabenizo a V. Exª pela oportunidade do pronunciamento e fico satisfeito
porque já na legislatura passada, quando a pretensão de se fechar o comércio
aos sábados veio a esta Casa, eu era Presidente da Executiva Regional do
Partido Liberal, que por doutrina defende a liberdade total do comércio, nós em
conjunto com o Ver. Jorge Goularte entramos com um projeto de contraponto ao
fechamento. Nesta legislatura, tão logo o Ver. Luiz Braz reeditou o fechamento
aos sábados, nós incontinentemente apresentamos um substitutivo tornando o
comércio livre aos sábados, domingos e feriados. Por isso são sobejas e
redobradas as razões para parabenizar a oportunidade do seu pronunciamento e
dizer que o próprio Presidente da República vê que temos que ter esta liberdade
para progredir e prosperar, vamos ter a via do trabalho, sem prejudicar a carga
horária do comerciário, do trabalhador e, conseqüentemente, gerando mais
empregos, mais divisas para Porto Alegre.
O SR.
JOÃO DIB: Sou grato a V. Exª. Na realidade o Ver. Luiz Braz quando
apresentou o seu Projeto de Lei, encontrou logo mais seis ou sete
Substitutivos, diferente dos Vereadores que fizeram a sua contribuição,
participação, no debate do problema. Mas, o Ver. Luiz Braz está fazendo uma
enquete, até por pessoas especializadas, para saber se deve dar continuidade,
ou não ao seu Projeto, se deve modificar. Mas vejo até que o Ver. Luiz Braz nem
está pretendendo que se estabeleça o sábado-inglês em toda sua plenitude, em
todo o ano, apenas que nos meses de janeiro e fevereiro isso aconteça.
Mas eu acho que, melhor do que nós, devem
decidir o empregado e empregador, porque nós não podemos pensar em Gramado não
trabalhando aos sábados de tarde e domingo, Canela e outras cidades onde o
turismo é extremamente importante. E Porto Alegre poderia fazer um
aproveitamento turístico deste fato, trabalhando num horário definido por
empregado e empregador. Eu não estou dizendo que trabalhem aos domingos, ou não
trabalhem, apenas acho que devem ter a liberdade de definir qual o melhor para
as duas categorias.
Vou aproveitar a lembrança do Ver. Aranha
Filho, que lembra o caso de Caxias do Sul. Caxias do Sul teve um problema
sério, mas voltou atrás, estabeleceu o horário de sábado-inglês depois voltou
ao horário normal, e Caxias perdeu uma enormidade do movimento de suas lojas,
porque havia muita gente que ia a Caxias na sexta-feira à noite para ficar lá
todo sábado e domingo até depois do meio dia, porque tinha oportunidade de
buscar bons restaurantes, mas também de fazer boas compras.
O Sr.
Wilson Santos: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu até
faria uma proposta para que nós não mais denominássemos sábado-inglês, que está
errado, porque nem na Inglaterra existe. Então é uma impropriedade dizer
sábado- inglês. É essa uma intenção de retrocesso brasileiro de fechar aos
sábados.
O SR.
JOÃO DIB: Eu acho que o certo é o horário livre do comércio. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Passo a presidência ao Ver. Adroaldo Corrêa, para usar o tempo
de Liderança do PMDB.
(O Ver. Adroaldo Corrêa assume a
presidência dos trabalhos.)
O SR.
PRESIDENTE (Adroaldo Corrêa): Com a palavra o Ver. Clóvis Brum em tempo
de Liderança.
O SR.
CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, esse Decreto do Presidente
Collor nos preocupa bastante. Porque as declarações do Sr. Rogério Valente,
determinando que os empresários não repassem mais dinheiro para os políticos
que são contra o fechamento do comércio nos fins de semana, deve ter preocupado
o Presidente Collor. Ao que eu sei, dois ou três parlamentares já ingressaram
na Justiça contra estas declarações do Sr. Rogério Valente, inoportunas,
infelizes, desrespeitosas e levianas para um homem que tem um cargo tão
importante, representando a classe empresarial do comércio brasileiro. Mas
vamos com calma.
O Decreto do Presidente Collor é a maior
besteira que eu já vi na minha vida, a maior bobagem, não diz nada com nada.
Quem decide o horário são as administrações municipais. Primeiro decreta
horário livre, depois manda a Câmara decidir. Ora, o Presidente Collor perdeu
uma excelente oportunidade de não se meter do que não é da sua conta. Mas que
coisa desagradável este Decreto, um decreto politiqueiro, para agradar o Sr.
Rogério Valente, que ia brigar não sei com que classe política, porque a ameaça
do Presidente da Federação de que os empresários não dariam mais dinheiro para
os políticos foi uma denúncia muito séria. E eu tenho a impressão de que isto
deve ter motivado o Decreto. Mas é um decreto frio, natimorto, como se costuma
dizer.
Vamos tratar as coisas a sério neste País.
Onde já se viu fazer um Decreto, assinar em momento solene, para dizer que as
Câmaras e as Prefeituras é que decidem o assunto. Já está na Constituição e nós
não vamos jogar assim como estão pensando: esta história de comércio livre aos
domingos, vamos com calma. A jornada de trabalho é uma conquista dos
trabalhadores brasileiros. Eu sempre defendi acordo entre trabalhador e
empregador, mas não para trabalhar domingo, só para trabalhar aos sábados, pelo
menos que houvesse uma rotatividade dos funcionários, uma alternância aos fins
de semana. Agora, abrir o comércio aos domingos, para jogar cem mil
trabalhadores de braços cruzados numa concorrência que vai atender ao patrão,
nenhum tipo de desenvolvimento social e econômico! Primeiro, quem não sabe que
Porto Alegre não é um centro de turismo? Segundo, que a população, aos fins de
semana, não vai comprar. Domingo, o chefe da família, a mãe, vai ficar com a
sua família.
Então, esta história de colocar trabalhador
no comércio para trabalhar domingo, essa não vai passar aqui, nem com convenção
coletiva, nem com acordo na delegacia, vamos ter que dar uma resposta séria,
não pensem os patrões que vão fazer desta cidade o que bem entendem, não, esta
cidade não vai se subjugar aos interesses da classe patronal. Vamos tratar com
grandeza este assunto que envolve milhares de trabalhadores, não vamos jogar a
senha do desejo absoluto dos patrões. Aceitamos, sempre defendi, Ver. Wilson
Santos, um acordo entre patrão e empregado para se manter o comércio aberto nos
sábados à tarde, agora, domingo, o Presidente Collor que vá brincar e enganar
onde ele quiser, não é ele quem decide, não é o Presidente da República quem
decide. É competência exclusiva do Município, e ele perdeu uma excelente
oportunidade de ficar calado, ele não pode assinar um decreto que não existe,
que não funciona. Qual é a eficácia desse decreto? O que é que o decreto
resolveu? Nada, só para dizer no decreto que a Constituição determina que o
Município legisle sobre o assunto. É brincadeira. Não passa por esta Casa o
comércio livre aos domingos, não vai passar. Os empresários têm muita
influência, mas não a esse ponto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Vereador Ervino Besson.
O SR.
ERVINO BESSON: Ver. Adroaldo Corrêa; no exercício da Presidência, Ver. Vieira
da Cunha, Ver. Wilson Santos, Bernadete Vidal, Aranha Filho, Clóvis Brum, João
Dib, meu caro amigo Daudt, porta-voz direta, nesta Casa, do nosso Prefeito
Municipal, meus amigos jornalistas, e a todos os presentes. Temos uma parcela
da população de Porto Alegre pedindo socorro a esta Casa, nós temos uma
parcela da população de Porto Alegre sacrificada que não agüenta mais, nós
temos uma parcela da população de Porto Alegre que a paciência desta população
está chegando a um patamar de tal forma que se não forem tomadas as
providências imediatas, nós vamos ter em poucos dias um desfecho triste e
lamentável.
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a parcela
desta população são os usuários do transporte coletivo da Empresa Belém Novo.
Há um sacrifício daquela população que usa o transporte coletivo Belém Novo,
eles não agüentam mais. Fui procurado por diversos usuários daquela empresa,
eles me fizeram um verdadeiro apelo dramático para que eu trouxesse a esta Casa
as reclamações daquela população que usa diariamente a empresa de transporte
Belém Novo. O sofrimento daquela população é demais, o sacrifício que aquela
população enfrenta dia-a-dia é demais, eles na agüentam mais. Dramaticamente
eles fizeram um apelo a este Vereador que trouxesse a todos os Vereadores desta
Casa para que juntos com o Prefeito Municipal seja tomada alguma providência.
Por que, Sr. Presidente e Srs. Vereadores?
Mais uma vez eu repito, o sacrifício, a luta, o martírio que aquela população
enfrenta no dia-a-dia, a paciência daquele povo está chegando ao fim, é muito
triste. Eu digo de uma forma muito triste. Digo muito triste porque aquela
população vai se mobilizar. E as conseqüências, talvez, venham a marcar por um
lado que não é nada aconselhável, nada bom para a nossa Cidade e para o povo da
nossa Cidade.
Portanto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
apelo aos Vereadores que se encontram no Plenário, para que em nome da
população, para minorar o sofrimento daquela população, que fizéssemos alguma
coisa, para que, pelo menos aqueles operários, aquele povo, que tem que
sustentar a sua família, tenha um pouco de dignidade, um pouco de compreensão
das nossas autoridades competentes para que alguma coisa seja feita para
melhorar o transporte coletivo da Empresa Belém Novo.
Tenho certeza, e peço ao amigo Adaucto que
leve o apelo daquela população ao nosso Prefeito Municipal para que mande
alguém fiscalizar a maneira que está sendo dirigido o transporte coletivo pela
Empresa Belém Novo. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Clóvis Brum): Liderança com o PT, Ver. Adroaldo Corrêa.
O SR.
ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
solidariedade da Bancada do PT ao pronunciamento do Ver. Ervino Besson e à
comunidade sofrida do extremo sul desta Cidade que tem na Empresa Belém Novo um
algoz e não um serviço público. Há muito tempo sabemos das dificuldades e temos
registrado nesta Casa, de transportar-se a população daquela área distante do
centro da Cidade e distante dos locais de trabalho da maioria da população de
lá. Propunha até que se somasse esforços desta Casa, junto ao Executivo e junto
à comunidade porto-alegrense para se buscar solução para esse, que é um
problema de longos anos e que a vista, não se apresenta solução.
Mas me inscrevi pelo Partido dos
Trabalhadores para referenciar que aquele que pretende no trabalho a
possibilidade de extensão de jornada para o domingo no comércio que pode ser
significativamente o aumento da carga de trabalho dos comerciários no Brasil
inteiro, ainda que condicionado à negociação, ainda que condicionado à
legislação municipal, pretende também que os trabalhadores ganhem sempre menos
por mais trabalho. Tanto que, por estas questões da vida, o povo brasileiro, no
dia de ontem, viu uma situação de uma maioria na Câmara, uma maioria no
Congresso não conseguir impor à vontade nacional sobre a questão salarial.
Faltaram 4 votos no Senado para a derrubada do Veto, embora a maioria
esmagadora na Câmara de Deputados tenha proposto que era esta a vontade da
Nação. O Congresso tem mais quatro anos e alguns Senadores disseram abertamente
que em quatro anos o povo brasileiro terá esquecido da votação de hoje, porque
foi na madrugada, e que, talvez, este texto tenha votado na derrubada do Veto,
mas os dois terços que têm quatro dos oito anos remanescentes apostam na
amnésia do povo brasileiro sobre estas questões. Nós faremos o possível para
que não seja esquecido os nomes destes que são também os algozes dos
trabalhadores na medida em que não corrigem os salários conforme a variação
inflacionária.
Quanto à legislação do comércio eu também
sou da opinião daqueles que pensam que é municipal a intervenção e que tem que
envolver os trabalhadores, que tem que ter audiência. Agora, eu faria um alerta
ao Ver. Clóvis Brum que supõe que o decreto é inócuo, porque o Município que
não tiver lei e o Município que não tiver sindicato de comerciários poderá
estar desde hoje, ou desde que foi decretado o diploma, trabalhando aos
domingos compulsoriamente, porque é livre o trabalho e, não havendo a
organização, há a possibilidade objetiva de exploração e aí está o benefício
que a Confederação das Federações de Comércio conquistou para a classe
empresarial. Ativo, o líder dos comerciantes, Cezar Rogério Valente, e atilado,
porque o Sindicato dos Comerciários não existe em todos os municípios. Os
comerciantes existem em todos os municípios. Nem todos os municípios
brasileiros têm legislação sobre horário de trabalho. Confiam na CLT, na
jornada de trabalho de 48, 46 horas. Confiam que a legislação se daria pelas
Delegacias Regionais de Trabalho, mas esta, muitas vezes desaparelhada, não
consegue alcançar o longínquo município que no mais das vezes, seguramente, 80
a 90% dos municípios brasileiros e aí teremos o confronto. E aí, em
contrapartida, os comerciários vão se organizar e disputar a legislação e vão
infelizmente, na amargura, sobre o algoz, tentar reconquistar aquilo que é o
descanso nos domingos por direito. Mas isto é com certeza, neste momento, uma
vantagem expressiva ao comerciante contra o comerciário assegurada pelo
presidente do capital que a ele propõe tudo, que é o inimigo do trabalho no
país que sequer a correção inflacionária permite, como ficou evidente no veto.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Liderança com o PFL, Verª Bernadete Vidal.
A SRA.
BERNADETE VIDAL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, é uma
satisfação enorme retornar a esta Casa, muito especialmente, pelo carinho
demonstrado pelos funcionários da Casa ao qual agradeço.
Mas, Srs. Vereadores, é bem oportuna esta
volta à Câmara de Porto Alegre, para marcar algo que nasceu porque havia um
desejo muito grande de que a pessoa portadora de deficiência não fosse
esquecida, fosse lembrada pelo menos de vez em quando nesse País, então nasceu
a Semana Nacional do Excepcional, agora chamada Semana Nacional da Pessoa
Deficiente. E não importam os rótulos, porque os rótulos são criados quanto
mais discriminação existe. Então, existindo uma discriminação quanto à palavra
cego, um professor denominava um aluno numa classe comum, de meu aluno
visoprivo. São as discriminações que até hoje, por incrível que pareça, que até
hoje, o deficiente sofre na carne e na sociedade. E passa governo e entre
governo e sai governo e as discriminações continuam, como no caso em que foi
votado ontem de termos recebido para servir de centro de atendimento ao
deficiente da audição e da linguagem, ao centro de atendimento a cegos, e ao
centro de pré-profissionalização aos deficientes mentais uma área já ocupada.
Isso quando o meu Partido estava no governo. Eu não estou, nem ao menos
criticando os oposicionistas, mas uma sociedade que dá ao deficiente algo que
estava incomodando, uma área que estava ocupada por vileiros, imaginem os
senhores os vileiros do centro da cidade! “Então, vamos dar para os
deficientes, pode ser que em nome da deficiência possamos tirar os vileiros do
centro da cidade e eles vão mais para longe”, então aí foi dado o terreno à
Fundação de Atendimento ao Excepcional na época, atual Fundação de Apoio ao
Deficiente e ao Superdotado.
Houve por bem esta Casa ontem, em minha
homenagem o Ver. Martim Aranha, devolver o direito dessa fundação que é do
Estado em continuar destinatária de uma área para a construção desses três
centros de atendimento ao deficiente. Eu espero, peço, solicito e rogo à
Bancada do PT, e ao Sr. Prefeito Olívio Dutra nesta semana que deve marcar não
apenas uma lembrança da pessoa deficiente, marcar debates a respeito, marcar,
por exemplo, com o Congresso das APAEs, que realizou em Tramandaí, rogo ao Sr.
Prefeito de Porto Alegre que não vete a Emenda do Ver. Aranha Filho, que
continue deixando a Fundação de Atendimento do Deficiente e ao Superdotado,
destinatário de uma área para que ali sejam construídos os três referidos
centros.
É uma maneira não piegas, porque nunca fiz
pieguice nesta tribuna a respeito da deficiência, é uma maneira séria,
equilibrada de darmos a única coisa que o deficiente ainda precisa e está
necessitando e pedindo constantemente que é menos indiferença, que é a
responsabilidade do Poder Público em todas as vezes em que não possamos suprir
esta deficiência. Ora, se um deficiente não pode cursar a escola normal sem que
existam esses centros de apoio, é de responsabilidade, é de obrigação do Poder
Público e é de obrigação desta Casa, e esta Casa felizmente tem cumprido a
obrigação através de minha pessoa e de muitos outros companheiros; esta Casa
tem cumprido as suas obrigações, o atendimento a 10% da população que é
marginalizada muito mais do que pela sua própria deficiência, é marginalizada
pela indiferença, marginalizada pelo desconhecimento e muitas vezes
marginalizada também por expressões carinhosas e lacrimosas de muitos
governantes que choram nesta Semana do Excepcional - e meus protestos contra
este choro - e que nos outros dias esquecem que o problema existe, esquecem de
atender equilibrada e seriamente 10% dos brasileiros. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE: Inscrito em Liderança o Ver. João Dib. Desiste.
Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 17h07min.)
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